Campanha “Lugar de mulher é na luta sindical” homenageou sindicalistas brasileiras no mês das mulheres

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Colaboração entre o SINDJUFE/MS (Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário Federal em Mato Grosso do Sul) e o SINASEFE/MS (Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica,  Profissional e Tecnológica) celebrou a história de mulheres que foram precursoras da atuação feminina no movimento sindical brasileiro. A campanha, intitulada “Lugar de mulher é na luta sindical!”, foi uma forma de celebrar a luta das mulheres no Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março.

Assim, foram divulgadas nas redes sociais dos sindicatos, durante os últimos dias, uma série de ilustrações acompanhadas de textos biográficos de algumas sindicalistas. Foram seis as mulheres homenageadas: Almerinda Farias Gama, Elvira Boni de Lacerda, Margarida Maria Alves, Laudelina Campos Melo, Julia Santiago e Ismene Mendes.

A campanha teve o intuito de retomar a memória da luta dessas mulheres e inspirar o fortalecimento da participação feminina e feminista nas organizações sindicais. Isso, tendo em vista que, historicamente, há uma predominância masculina nas posições de liderança e participação nessas organizações, assim como na política como um todo.

As ilustrações e artes da campanha são assinadas por Iara Cardoso, da assessoria de comunicação do SINASEFE/MS, enquanto a redação e a pesquisa são de Franklin Schmalz, da assessoria de comunicação do SINDJUFE/MS.

Acesse o PDF com todas as ilustrações: Lugar de Mulher é na Luta Sindical

Confira abaixo as ilustrações e resumos das biografias das homenageadas:

 

Elvira Boni de Lacerda (1889-1990)

Elvira Boni de Lacerda nasceu em Espírito Santo do Pinhal (SP), em 1899. Não pode concluir o ensino primário e já com 12 anos era aprendiz sem salário numa oficina de costura, na época a jornada de trabalho variava entre 11h e 14h diárias. Elvira cresceu numa família adepta aos ideais libertários, seu pai era anarquista e integrou a Liga Anticlerical, Elvira também veio a fazer parte da Liga e nesse período iniciou sua atuação política e sindical.

Com 20 anos de idade, em maio de 1919, fundou a União das Costureiras, Chapeleiras e Classes Anexas no Rio de Janeiro, junto das colegas de trabalho Lisa Gonçalves de Oliveira, Carmen Ribeiro, Isabel Peleteiro, Noêmia Lopes e Aida Morais. A União das Costureiras denunciava, principalmente, a situação de trabalho precário nas fábricas e a extensa jornada de trabalho. Logo após três meses de sua fundação, as mulheres organizaram uma greve da categoria. 

Além de sindicalista, Elvira escreveu artigos para jornais e revistas, integrou grupos de teatro operário e, em 1920, presidiu a mesa de trabalhos do III Congresso Operário Brasileiro. Casou-se com o comerciante Olgier Lacerda, um dos fundadores do Partido Comunista Brasileiro (PCB), com quem teve duas filhas. Elvira morreu no Rio de Janeiro em 1990, aos 91 anos.

Almerinda Farias Gama (1899)

Almerinda Farias Gama nasceu em 16 de maio de 1899, em Maceió (AL). Morou em Belém, onde se formou datilógrafa, como era boa escritora, publicava crônicas em jornais. Quando almejava conseguir um emprego como datilógrafa, constatou que os homens recebiam 50% a mais de salário do que as mulheres na profissão, a partir daí virou defensora da igualdade entre homens e mulheres.

Se mudou para o Rio de Janeiro em 1929, entrou no mercado de trabalho, se tornou presidenta do Sindicato dos Datilógrafos e Taquígrafos. Além disso, se uniu ao movimento das sufragistas e apoiou a campanha de Bertha Lutz para a presidência da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Em 1933, junto de Carlota Pereira de Queiróz, foi uma das duas únicas mulheres a votar na Assembleia Nacional Constituinte, o fez como delegada classista, representando o seu sindicato e a Federação do Trabalho do Distrito Federal. 

Almerinda, em 1934, já formada em Direito, candidatou-se a deputada federal, seu panfleto de campanha dizia: “Advogada consciente dos direitos das classes trabalhadoras, jornalista combativa e feminista de ação. Lutando pela independência econômica da mulher, pela garantia legal do trabalhador e pelo ensino obrigatório e gratuito de todos os brasileiros em todos os graus.” Não conseguiu se eleger, mas ainda foi dirigente do Partido Socialista Proletário do Brasil. Almerinda é considerada uma das primeiras mulheres pretas a atuar na política brasileira. Não há certeza sobre a data da sua morte.

Laudelina de Campos Melo (1904-1991) 

Laudelina de Campos Melo nasceu em 12 de outubro de 1904, em Poços de Caldas (MG). Filha de pais alforriados pela Lei do Ventre Livre, Laudelina começou a trabalhar como doméstica aos 7 anos. Desde jovem participou de organizações políticas e culturais do movimento negro. Casou-se aos 18 anos, teve dois filhos e se separou. Em 1936, Laudelina se filiou ao Partido Comunista Brasileiro e fundou, em Santos (SP), a primeira Associação de Trabalhadores Domésticos do país. 

A organização das domésticas foi fechada durante o Estado Novo e voltou a funcionar em 1946. Laudelina ainda ajudou a fundar a Frente Negra Brasileira. Durante a Segunda Guerra Mundial ela se alistou para servir como auxiliar de guerra, alegando anos mais tarde, como motivação para o alistamento, o fato de que “Hitler foi o maior carrasco que existia naquela época”. […] ele eliminaria todas as raças que não fossem arianas, principalmente a raça negra seria eliminada. Então aquilo me levou, me trouxe uma revolta dentro de mim”.

Em 1961 fundou a Associação Profissional Beneficente de Empregadas Domésticas em Campinas (SP), depois foi convidada a participar da organização de diversos sindicatos da categoria pelo país. Com o golpe de 1964, para a associação não ser fechada, ela foi abrigada na UDN (União Democrática Nacional) mas a entidade acabou se dissolvendo. Laudelina chegou a ser presa durante a ditadura civil-militar e retornou à direção da associação apenas em 1988, quando a mesma se tornou sindicato e seguiu na defesa dos direitos dos trabalhadores domésticos. Laudelina morreu em 1991, aos 86 anos, em Campinas, deixando sua casa para o sindicato.

Júlia Santiago (1917-1988)

Júlia Santiago nasceu em novembro de 1917, em São Lourenço da Mata (PE). Alfabetizou-se em casa, se mudou para Recife e começou a trabalhar como empregada doméstica. Forjou documentos para conseguir seu primeiro trabalho numa fábrica têxtil, depois de um tempo começou a se engajar na militância sindical. Na década de 30, ajudou a fundar o Sindicato da Fiação e Tecelagem de Pernambuco e ingressou no Círculo Operário Católico do Recife, além disso fazia parte do Partido Comunista Brasileiro, na época na clandestinidade.

No movimento sindical, defendia tempos de aposentadorias diferentes para homens e mulheres, tendo em vista as jornadas duplas de trabalho. Em 1947, foi a primeira mulher eleita vereadora em Recife (PE). Durante a Ditadura Civil-militar, Júlia foi presa várias vezes, além de ser conduzida para interrogatórios e até ficar sem receber seu salário por um período em represália à sua atuação política. Júlia faleceu em 1988.

 

Margarida Maria Alves (1933-1983)

Margarida Maria Alves nasceu em 5 de agosto de 1933, em Alagoa Grande (PB), filha mais nova de nove irmãos, sua família vivia na zona rural até serem expulsos das terras por latifundiários. A questão agrária fazia parte da sua vida e, em 1973, ela se tornou Presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande e por isso é considerada uma das primeiras mulheres a assumir uma posição de liderança sindical como esta.

Na atuação sindical, Margarida defendia direitos básicos aos trabalhadores, como a jornada de oito horas, a carteira assinada, o décimo terceiro salário e férias, além disso, lutava pelo fim do trabalho infantil nas lavouras e para que essas crianças pudessem estudar. Também criou no sindicato um programa de alfabetização de adultos inspirado em Paulo Freire. Combativa, foi responsável por mover mais de 100 ações trabalhistas na Justiça do Trabalho local que estavam relacionadas, principalmente, com grandes proprietários de terras e usineiros. 

Por conta da sua atuação, teve a morte encomendada por fazendeiros. Margarida foi assassinada na porta de sua casa, em 12 de agosto de 1983, com um tiro no rosto e estando na presença de seu marido e filha. Ela já vinha recebendo ameaças desde antes e, em discurso no Dia do Trabalhador daquele ano, em 1º de maio, ela declarou: “Da luta não fujo. É melhor morrer na luta do que morrer de fome.” Em homenagem a ela é que mulheres trabalhadoras rurais criaram, em 2000, a Marcha das Margaridas.

Ismene Mendes (1956-1985)

Ismene Mendes nasceu no dia 29 de janeiro de 1956, na zona rural de Patrocínio (MG), filha de trabalhadores rurais, seu pai era sindicalista e ela sempre o acompanhou nas atividades do movimento. Ajudou a fundar o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Patrocínio em 1979. Mudou-se para Uberlândia para estudar Direito e quando concluiu, retornou à Patrocínio e se tornou assessora jurídica do sindicato.

Ismene era considerada por todos a sua volta como uma pessoa honesta, corajosa e com senso de justiça. Por isso, não media esforços para defender os direitos dos trabalhadores. Os moradores da cidade chegaram a acreditar que ela era algum tipo de “advogada remunerada pelo governo” porque sempre estava à disposição para auxiliar em seus  problemas. Em 1982 foi eleita vereadora em Patrocínio pelo MDB, embora não acreditasse que essa era sua vocação, o fez porque foi convencida e incentivada pelos companheiros de luta.

Ismene atuou durante os anos da Ditadura Civil-militar e era constantemente ameaçada. Em 1985 foi levada para uma emboscada, rendida por homens encapuzados, foi espancada e abusada. Ela denunciou a agressão mas foi desacreditada pelas autoridades e acusada de simular seu próprio espancamento e estupro. Em 23 de outubro de 1985, segundo o inquérito da época, Ismene foi encontrada pelo seu patrão agonizando depois de ter cortado os pulsos e ingerido veneno. Foi construída uma narrativa de que ela tinha problemas que a atormentavam e por isso se suicidou. A família e conhecidos nunca acreditaram nisso. A verdade sobre a perseguição e assassinato político de Ismene só foi estabelecida em 2018, a partir de relatório da Comissão Regional da Verdade do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba que, inclusive, foi batizada com o seu nome.

 

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